quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Síndrome dos Ovários Policisticos – SOP / Parte l


A Síndrome dos Ovários Policísticos ocorre em 6 a 10% das mulheres que estão na idade fértil (20 a 44 anos). Para se ter uma ideia da importância destes dados, estima-se que no mundo existam cerca de 100 milhões de mulheres com esta doença. No Brasil, se considerarmos os dados do último censo IBGE (2000) podem existir 2,5 milhões de mulheres com esta síndrome, cerca de 800 mil mulheres no estado de São Paulo, 300 mil no estado do Rio de Janeiro, 180 mil no estado do Paraná e 400 mil no estado de Minas Gerais. Estes números são suficientes para entendermos a importância desta síndrome.

INFORMATIVO PARA PACIENTES

O que são cistos?

São pequenas bolsinhas com conteúdo líquido e que, em princípio podem aparecer em qualquer parte do organismo. Todo mês, nos ovários, desenvolve-se um cisto que inicialmente é pequeno (5 a 9mm), cresce na primeira fase do ciclo menstrual e atinge, na época da ovulação, a dimensão aproximada de 18mm. Estes recebem o nome de folículo e dentro deles está um óvulo. Na ovulação ele se rompe, o óvulo sai e se encaminha para as tubas (trompas) onde poderá ser fertilizado pelo espermatozóide – caso ocorra a relação sexual nesta época. Nesses casos, cisto não é doença e se chama cisto funcional, isto é, decorrente do funcionamento normal do organismo. Entretanto, quando um ou mais cistos formam-se fora dessas características passam ser uma doença.

O que é Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)?

É uma síndrome caracterizada por alterações hormonais que podem repercutir no organismo causando vários sintomas. Como conseqüência, ao invés de se formar um único folículo no ovário, que é um processo natural e normal, formam-se vários que ficam “acumulados” e não liberam os óvulos; eles não se rompem. Daí o nome “ovários policisticos” que, como veremos mais adiante, não é alteração orgânica obrigatória nesta síndrome. Existem vários hormônios que participam destas alterações, mas os principais são os androgênios (hormônios masculinos normalmente fabricados pelos ovários, em quantidades pequenas).


GENÉTICA E HEREDITARIEDADE

Acredita-se que a SOP tenha caráter hereditário e muitas publicações científicas têm confirmado esta possibilidade. Foi observado este diagnóstico entre irmãs e alterações metabólicas em irmãos destas pacientes que mesmo sendo do sexo masculino, apresentaram alterações laboratoriais idênticas as suas irmãs com esta síndrome. Filhas e irmãs de mulheres com SOP têm 50% mais de chance de desenvolver este problema.

DIAGNÓSTICO

É feito através do histórico da paciente, exame clínico e exames laboratoriais.

Histórico e exame clínico

- Menstruação irregular: é uma das principais características. As menstruações vêem esporadicamente podendo demorar até 90 dias entre uma e outra. Muitas vezes elas só aparecem quando as pacientes recebem medicamentos para estimular. Esse sintoma é comum em grande parte das mulheres com essa síndrome.
- Obesidade: pelo menos metades dessas mulheres estão acima do peso, isto é, o Índice de Massa Corpórea (IMC) está acima dos 25 anos (lembrete: IMC = Peso /Altura ao quadrado). Esse é um fator fundamental para futuras complicações desta doença. A circunferência abdominal superior a 88cm está associada a um maior risco de problemas cardíacos(alguns já consideram o valor máximo de 80cm).
- Infertilidade: devido às alterações hormonais, essas mulheres passam a ovular menos ou de maneira inadequada e por isso podem ter dificuldade em engravidar. Das causas de infertilidade o fator ovulatório ocupa um lugar de destaque e 75% é devido a esta síndrome. Além disso, essas mulheres têm um alto índice de abortamento.
- Hirsutismo: é o aparecimento de pêlos em locais onde normalmente não deveriam existir na mulher (face, tórax, glúteos, ao redor dos mamilos, região inferior do abdômen e parte superior do dorso).
- Acne: 30% das mulheres com SOP têm este sinal que consiste num processo inflamatório da pele do rosto, caracterizada por erupções superficiais causadas pela obstrução dos poros.
- Alopécia: é a queda em excesso de cabelos na região do couro cabeludo levando á rarefação de pelos, comum aos homens e raro nas mulheres.
- Seborréia: é a oleosidade da pele e couro cabeludo.
- Acantosis nigricans: é aumento da pigmentação da pele (manchas escuras) em áreas de dobras, como pescoço e axilas.

Exames Complementares

- Ultrassom: o ideal é ser realizado pela via transvaginal, mas, muitas vezes, é impossível de ser realizado em mulheres (virgens). Neste exame observa-se o volume ovariano (>10cm3), a textura do ovário e a presença de pequenos cistos. Se houver a presença de 12 ou mais em cada ovário, medindo 2 a 9 mm no seu maior diâmetro, caracteriza-se um dos sinais desta síndrome.
- Resistência à insulina: a insulina é um hormônio responsável por facilitar a entrada da glicose na célula. Em algumas doenças como a SOP, existe um defeito na sua ação, o que leva a um acúmulo de glicose no sangue. Como conseqüência pode surgir a diabetes e um aumento da concentração deste hormônio no sangue. Os exames para investigara resistência à insulina são muito importantes, tanto para o diagnóstico como para avaliar as possíveis complicações futuras que serão descritas mais adiante. Existem algumas dificuldades nesta avaliação, pois, até hoje, não existe um exame específico para o diagnóstico definitivo. Atualmente, a melhor opção é a dosagem da glicemia e a insulina em jejum e depois repetida duas horas após a alimentação ou através do índice de glicemia de jejum/ insulina de jejum, que deverá ser menor do que 4,5.

CONSEQÜÊNCIAS DA RESISTÊNCIA A INSULINA

CONSEQÜÊNCIAS CLÍNICASCONSEQÜÊNCIAS METABÓLICAS
Puberdade precoceDiabetes
Falta de ovulaçãoAlterações do sono
InfertilidadeDistúrbios cardiovasculares
Abortos
Câncer endometrial
OUTROS EXAMES

AVALIAÇÃO HORMONAL

- FSH e LH – a relação LH e FSH é geralmente > 3:1.
- Hidroxiprogesterona (17 OHP) – para descartar a hiperplasia congênita da glândula supra-renal que pode causar um quadro clínico semelhante à SOP.
- T3, T4, T4 livre e TSH – são hormônios ligados à tireóide que estão relacionados à síndrome.
- Prolactina – hormônio que está aumentado normalmente em mulheres que estão amamentando, mas fora desta condição causa alterações menstruais.
- Androgênios: Testosterona, Testosterona Livre, SHBG e SDHEA, androstenediona e cortisol.

AVALIAÇÃO METABÓLICA

- Perfil lipídico (colesterol, triglicérides).
- Curva glicêmica (TTGO) com insulina ou de forma mais simples e eficaz a glicemia de jejum e pós-prandial acompanhada da insulina plasmática de jejum.
- HOMA-r/HOMA-B – são testes para avaliar a resistência a insulina e não são realizados de rotina.

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